100 Anos sobre a morte de Rafael Bordalo Pinheiro
Começou o estudo do desenho com seu pai, e depois de ter pintado quadros que chamaram a atenção sobre o artista, trocou o pincel pelo lápis, tornando-se um dos mais espirituosos e delicados caricaturistas, rivalizando com a maior parte dos estrangeiros, se os não excede sob muitos pontos de vista. 0 seu primeiro grande sucesso foi com a Lanterna magica, a que pertenciam Guerra Junqueiro, Guilherme de Azevedo e Lino de Andrade. Em 1871 publicou um álbum de caricaturas de homens notáveis, com o título de Calcanhar de Achilles. Criou em seguida, ainda neste ano, o Binoculo, que foi o primeiro jornal que se vendeu dentro dos teatros, e de que saíram apenas quatro números. Ainda em 1871 apareceu o Mappa de Portugal, de que se venderam 4.000 exemplares em um mês. Publicou em 1870 a Berlinda, album humoristico ao correr da penna. Oferecendo-se-lhe do Rio de Janeiro a direcção do jornal 0 mosquito, aceitou o encargo, e partiu para o Brasil, onde mais tarde fundou outro jornal humorístico, 0 besouro. Regressando a Lisboa criou o Antonio Maria, que obteve grande sucesso artístico, seguindo-se Os pontos nos ii, jornal que alcançou também importante aceitação. Ultimamente, a sua verve inesgotável de caricaturista tem embelezado as páginas do jocoso semanário A parodia.[ler mais]
O Zé Povinho
Em 1875, o aparecimento na imagística portuguesa do zé-povinho, sob a inspirada pena de Rafael Bordalo Pinheiro, condensa a imagem e a simbologia do ser lusíada.
Visto de uma perspectiva marginal, o zé-povinho, mantendo o trajo rústico compósito, é a representação simbólica da funda ruralidade do ser lusitano que se marginaliza no novo espaço pretensamente urbano do libero-capitalismo da Regeneração.
Nesta ambígua duplicidade, a sua figura entra no fundo cultural nacional, no nosso imaginário, pela negativa: não sendo exemplar, o zé-povinho é um signo de força própria e determinante; é um antiexemplar. Nas palavras de José Augusto França, a criação bordaliana do zé-povinho é um mito «que reúne am si as potencialidades positivas e negativas de uma nação que se autodefine romanticamente como generosa e boa, e se vê morrer, realisticamente, de ignorância e indiferença numa História sofrida». Texto retirado aqui
Se Bordalo Pinheiro estivesse ainda entre nós certamente não lhe iriam faltar motivos para continuar a caricaturar a sociedade portuguesa.